28.4.09

Difusos reflexos

"Eu acho que os melhores quadrinhos (como os melhores romances, pinturas e etc.) são trabalhos pessoais e idiossincráticos, que refletem uma sensibilidade única e honesta.” Bill Watterson

Começo a defender o design autoral, com alma, onde nossas opiniões, convicções e dúvidas servem de combustível para o desenvolvimento do trabalho. O design, deve suprir também outras necessidades: do cliente, do público em questão, do financeiro, dos prazos... Mas a semente está na experiência e na vivência que temos. O que expresso no layout da revista tem a ideologia da empresa em que trabalho, os interesses dos leitores e um pouco de mim.

Se por um lado o trabalho é um reflexo nosso, por outro ele é uma projeção. Se por um lado me expresso na revista, por outro me projeto nela também. O que nos atrai carrega um pouco de nós ou do que desejamos ser. Nesse sentido e mostrando o fascínio que existe nas revistas, acho o trabalho do Peter de Brito muito corajoso ao deixar explícito esse reflexo mútuo entre criador e criação.


Outro trabalho delicioso sobre reflexos e projeções em revistas é o do Vik Muniz, com confetes de revista. No catálogo de sua recente exposição há um histórico muito interessante do conceito deste trabalho: “No Brasil, Vik alcançou certa celebridade, o que possibilitou seu encontro com outras celebridades. Ele achava difícil ‘casar’ a pessoa real com aquela que ele havia conhecido através da mídia e procurou reproduzir essa dificuldade de ‘montar’ uma pessoa através da sua imagem pública”. A imagem abaixo é um autorretrato, afinal, ele mesmo havia se tornado uma personalidade midiática.



Creio que esses dois trabalhos debatem, cada um de um ponto de vista. Peter de Brito não se tornou celebridade, mas projetou-se nas capas de revistas. O célebre Vik Muniz não se viu refletido em suas fotos estampadas nas revistas e reconstruiu seu retrato. No meio disso, estou buscando meu reflexo e descobrindo o que projeto nas revistas. E você?

25.4.09

Refazendo o post anterior

Depois que postei o último texto, não gostei dele. Estava frio, apenas uma referência. Minha intenção com este blog é que seja pessoal, humano, que tenha minha opinião e sentimento. Passei muitas horas pesquisando no site da SPD, selecinonei 272 imagens de 53 revistas diferentes, quis selecionar os mais importantes pra mim. Foquei na revista que mais ganhou prêmios, mas qual foi o critério de triagem entre os 58 layouts que salvei da The New York Times Magazine? Sentí-me tímida, e estou me desafiando a reescrever o post. Pra isso estou focando um pouco mais, falarei só das capas.


Esta primeira capa me impressionou pela perfeição. A modelo, a maquiagem, a luz, a inclinação do rosto... o clique perfeito do fotógrafo. No alto à esquerda apenas o símbolo da publicação. Embaixo à esquerda apenas duas palavras – French Kiss – arrematam o layout. Representação perfeita dos padrões estéticos.

A segunda é o oposto, além da maquiagem e da luz não serem convencionais, o rosto perfeito da modelo é deformado e a frase “Art and soul” encerra o assunto.



Capas pretas não são bem aceitas, mas essa prova que com cuidado tudo é possível. A foto é sensacional, com todos os tons cinzas e luzes de um cabelo grisálio. O desenho do perfil feminino em suave contraste com o fundo cinza, cria uma atmosfera intrigante. A tipografia delicada e colorida foi o que me atraiu nessa capa, achei muito bem resolvido e leve. Apesar do tema sombrio e da grande quantidade de chamadas, nada pesa.

A foto da escada me atraiu pela beleza, depois me perguntei: o que esta escada está fazendo aí? E por fim, li a chamada. Tudo explicado: Katrina. Uma foto bonita para um tema trágico e logo um mal estar toma conta do leitor.



Por fim, duas capas inventivas. Uma coloca os seres humanos em placas de petri, como se fossem bactérias encubadas em laboratório, e gera a dúvida: podemos confiar na ciência? A segunda é irreverente ao aprepresentar um jogador de golf visto por outro ângulo.

Todas essas observações me fazem pensar sobre a forma como as pessoas se aproximam de uma capa exposta.

22.4.09

The New York Times Magazine e a SPD

SPD é a sigla para Society of Publication Designers. Eles possuem um anuário sobre revistas e disponibilizam várias imagens no site. A Revista do Ano foi a The New York Times Magazine. Andei pesquisando por lá e resolvi compartilhar os layouts desta revista que mais me impressionaram.

Capas




















Matéria de capa











Economia























Entrevista especial






Ensaio fotográfico em São Paulo







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21.4.09

Retorno

Passei um bocado afastada por excesso de atividades. Nesse tempo li, estudei, vi muita coisa e, principalmente, trabalhei! Não consegui conciliar o blog, ainda estou em fase de adaptação. Agora estou curtindo uma breve parada, estou isolada para organizar a vida e as idéias. Mas tenho muito o que escrever e é hora de retornar aos poucos.

Uma das coisas que descobri nesse período foi o blog da equipe de arte da Revista Época, o Faz caber. Eu estava procurando um blog brasileiro sobre mídia impressa e esse veio a calhar, caso alguém tenha algum outro para indicar, eu agradeceria. Quando consigo um tempinho, acompanho alguns de fora do Brasil. O Quatro tipos e Quinta tinta são meus favoritos, tem também o ótimo blog do Jeremy Leslie e o único brasileirão que eu acompanhava era o Imagem, papel e fúria.

Minha última descoberta apaixonante foi o Henry Sene, capista de livros que tem um texto delicioso em seu blog que é mais ou menos assim:

Como se faz uma capa de livro?
Primeiro você começa com uma página branca, para e pensa muito, toma bastante café, da vários intervalos, ajusta o escâner, atualiza sua página no Facebook, deixa de lado os medos de que este projeto seja aquele que finalmente mostre ao mundo o fera que você é, e então tem certeza de que aquilo que você sente emerge de suas leituras, põe as idéias no papel, ouve outras opiniões, para de trabalhar em demasia, tem uma vida, dorme bem, come decentemente e volta ao trabalho no dia seguinte para fazer tudo isso outra vez. É assim, simples e divertido. E se não for, então pego uma nova página em branco e comeco outra vez.


Gostei do texto porque é isso que eu tenho buscado pra mim. É preciso fazer de tudo, mas uma coisa de cada vez.