30.7.09

A Herança do Olhar


















"Ao considerar que a livre associação de idéias desprovida da tensão provocada por uma ordenação racional do pensamento possa se apresentar como matéria-prima dos processos de ideação, deduz-se que projetar implica um tipo de pensamento que busca atingir seu objetivo sem necessariamente se propor a percorrer o caminho da razão linear e dedutiva, reforçando a idéia da intuição como uma competência inovadora." João de Souza Leite
Estou estudando este livro, que fala sobre o design através da trajetória de Aloísio Magalhães, um de meus designers favoritos.

23.7.09

Sinalização em revistas

Issues New Magazine Design #7

Sendo a leitura de uma revista um processo não-linear, cabe ao designer marcar bem cada seção, para que o leitor faça suas escolhas e leia a revista da forma que lhe interessa. Isso funciona como um sistema onde o designer mostra qual a localização das coisas, já que essa disposição deve ser dinâmica. A cada novo exemplar tudo muda, mas a sinalização deve permanecer. Isso me lembra um trecho da matéria da abcDesign sobre o Estudio Diseño Shakespeare, quando se referia a sistemas de sinalização:

“Para que o processo cognitivo, de compreensão das informações desta rede seja eficiente, a previsibilidade é um fator essencial. Em um sistema onde o indivíduo deve fazer a sua escolha, as informações de localização, as mensagens verbais, pictográficas e cromáticas devem ser rapidamente subentendidas pelo usuário.”

Assim, posso abrir uma Bravo! por ano e não terei problemas em me encontrar. Sei que ela está dividida por manifestações artísticas, cada uma dessas seções possui uma cor e um quadro geral com o que está acontecendo naquele setor específico. Apesar da revista dispensar duas páginas para o sumário da edição, o leitor não precisa dele para navegar. Abaixo, a revista em três anos distintos: 2001, 2004 e 2009.


20.7.09

Mr Magazine vai à praia


















Samir Husni é “Mr. Magazine”, o diretor do Magazine Innovation Center na Universidade do Mississippi. Sempre que posso, visito seu blog que tem textos consistentes. E também o sigo no Twitter. Sexta-feira passada ele escreveu um texto que contempla boa parte do que penso.

O expert em mídia impressa revela que está de férias numa praia distante, sem nenhum brinquedinho eletrônico. Feliz, ele observa as pessoas com seus jornais, revistas e livros impressos (all ink on paper). Abre o jornal e logo na capa vê uma chamada sobre o Super-Homem, que incita o leitor a buscar uma tirinha no site do jornal. Nas páginas internas ele reencontra o super-herói e outra chamada para a web. Então, conclui que o impresso não está morrendo, está sendo assassinado.

“The folks behind some of our papers and magazines are in the process of committing suicide. Print is not dying, it is being killed.”

Mr. Magazine diz que os editores estão particionando a experiência do leitor. A informação é fracionada entre os meios. Se você tiver apenas uma das mídias, no caso dele um impresso, não é permitido usufruir o conteúdo completo. Em sua opinião, impresso e digital são meios que possuem diferentes qualidades e devem ser completamente exploradas em suas particularidades. Mas uma não deve diminuir a outra. Ou seja, a informação impressa deve ser completa e apenas ampliada com as experiências que só o meio digital pode oferecer. No caso do anúncio do Super-Homem, a tirinha poderia ser impressa no papel, enquanto que vídeos seriam conteúdos exclusivos do jornal online. Assim, ele afirma que “as pessoas estão se afastando dos impressos porque os impressos estão se afastando delas”.

“When reading a newspaper or a magazine is no longer a complete experience (no matter what type of experience it is going to be) and you have to go other places to finish the experience, there lies the heart of the problem. I do not mind the papers and the magazines advertising their websites and telling me what they have to offer me on the website, but do not take it away from the printed experience. The web is a complete different experience, and each medium on its own should fulfill that experience.”

“feel free to read the paper, go to the web, listen to the radio, watch television and check you mobile feed. However, keep in mind that each and everyone of the aforementioned experiences should be sufficient on its own.”


Isso é um pouco do meu pensamento também, que não será o digital que vai matar o impresso, pois são experiências distintas. Cada meio deve buscar suas particularidades. Acredito que os caminhos de agora podem até levar muitos impressos para o buraco, mas alguns permanecerão e outros vão surgir.

15.7.09

Conjuntura Econômica – Abril de 2009

Quero compartilhar o desenvolvimento de alguns trabalhos meus. E começo com a capa de abril desse ano, na revista Conjuntura Econômica. O tema era comércio exterior pós-crise, uma análise das relações comerciais entre os maiores exportadores do mundo e a posição do Brasil nesse cenário.

Partimos do conceito de que a crise internacional de 2008 havia desfeito laços comerciais estabelecidos. E agora novos acordos estavam em pauta. Parcerias desfeitas e novas associações sendo desenhadas. O cenário era de uma desestruturação geral, uma fragmentação. Assim pensamos em algumas alternativas: criar um mapa mundi com tangran, com fragmentos aleatórios ou desmembrar os países.













Imaginamos o mapa-mundi como um quebra-cabeça e gostamos de manter a divisão política dos Estados, para enfatizar o caráter soberano da questão. Imaginamos esse mar de países à deriva, buscando um novo rearranjo comercial. Assim pensamos nos países soltos e misturados.






















O azul e verde tinham vindo naturalmente até aqui, mas concluímos que as cores não estavam passando a tensão que gostaríamos. Experimentamos outras cores.






























Também pensamos em formas de apresentar esse mapa disperso.




















Finalmente, decidimos colocar na capa só os países que tem uma relação comercial significativa com o Brasil, seja na exportação ou importação. Apresentamos duas propostas e ficamos com a capa vermelha e preta. A imagem da capa foi utilizada também na abertura da matéria, quando incluímos o nome dos países e sua relação com o Brasil.





















14.7.09

Ritmo

Issues New Magazine Design #6

“It is the element of surprise more than any other quality that marks a publication out as a magazine. (…) The designer and editor must consciously vary both the content itself and the method(s) of presenting the content throughout each issue to provide changes in pace and thus keep surprising the reader”

“É o elemento de surpresa, mais que qualquer outra qualidade que marca uma publicação como revista. O designer e o editor precisam variar, intencionalmente, tanto o conteúdo quanto o método de apresentar as matérias a cada edição, mudando o ritmo e surpreendendo o leitor” tradução livre

O projeto gráfico é importante para dar personalidade à publicação. Um conjunto de regras a partir das quais criam-se layouts que possuem coerência formal e dão unidade à revista. Mas a criatividade é fundamental para saber usar as regras de formas variadas e não entediar o leitor.

A revista Piauí, por exemplo, tem um conteúdo textual denso, grande formato, margens estreitas, quatro colunas por página e duas tipografias básicas. Mesmo com tantas normas ela consegue manter um dinamismo na apresentação das matérias. E ainda lança mão de recursos que eu adoro, como colocar uma poesia no meio de uma matéria sobre o 11 de Setembro, espalhar tirinhas sobre a vida de Jung nas páginas, colocar uma ilustração sobre cinema em cada seção da revista e qualquer outro artifício que misture realidade e ficção. Assim, surpreende, quebra a tensão, distrai para retomar o fio da meada depois.
































































Os leitores da Vida Simples são pessoas que estão voltadas para uma busca interna, estão fortemente ligados ao conteúdo e por isso a revista aposta no conceito. Ela também tem regras bem definidas para a apresentação das matérias, mas com a fotografia e ilustação trabalhadas de forma conceitual e simbólica, surpreende através da emoção.











































9.7.09

Títulos

Sempre que posso, leio o blog Quinta Tinta do designer Diego Areso – editor de arte do jornal espanhol Público. O texto dele é agradável, bem-humorado e com um conteúdo de qualidade. Essa semana fui brindada com um texto delicioso que falava sobre o design de títulos em publicações periódicas. Ele começa falando do designer de tipos Jim Parkinson, especialista em desenho e redesenho de logotipos editoriais – uma dessas pessoas que conhecemos sem saber. Jim foi responsável pelo recente redesenho do título da Newsweek, publicado junto com o novo projeto gráfico. Ele tem uma lista enorme de renomados projetos, como a Rolling Stone, El Graphico e Esquire, onde trabalhou com Roger Black.










































Voltando ao blog do Diego, ele explica que esse é o tipo de trabalho transparente, onde pequenas modificações vão sendo feitas para aperfeiçoar o logotipo, aumentando a legibilidade, por exemplo. Ou corrigindo "erros", como ele diz que foi feito no jornal onde trabalha. O que acontece é que o leitor não nota, mas percebe de forma inconsciente a melhoria. Quem quiser brincar de jogo dos sete erros, aproveitem as imagens abaixo e descubram o que mudou em cada título.














6.7.09

Creative Review

















Falando sobre capas e acabamentos especiais, caiu na minha mão a bela edição de maio da Creative Review. Eu já tinha visto o making-of da capa no site da revista, mas eu não sabia que havia um acabamento de laminação, valorizando ainda mais a foto de Luke Kirwan. O fotógrafo contou que sua maior dificuldade foi encontrar o lugar certo para a locação.


Ele queria fazer um trabalho fora do estúdio, algo mais conceitual, escultórico, monumental. E a partir da idéia inicial do editor, sobre água e óleo, surgiu a proposta do "A" metálico e de gelo, o primeiro construído em MDF e o segundo cortado a laser.




























Com a laminação, as luzes que entram pelas janelas do galpão ganham um prateado bonito e o "A" é realçado, tanto na versão metálica quanto na de gelo. Ainda não captei bem a intenção do óleo e água que o editor quis trazer para o anuário, mas como ele fala da convergência cada vez maior de meios digitais nas artes gráficas, talvez seja essa a idéia, de que coisas aparentemente distintas e que não se misturavam, convivem e ampliam suas possibilidade de forma interligada.

A publicação tem duas capas num mesmo exemplar, uma para a edição do mês e outra para o anuário, que inclui a abertura da série Capitu em sua seleção dos melhores trabalhos gráficos de 2008.